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Política é luta de classes

  • Foto do escritor: Rogério Baptistini Mendes
    Rogério Baptistini Mendes
  • há 8 minutos
  • 4 min de leitura

A conjuntura atual, com seus desafios ao trabalho e imposição de ameaças ao futuro da própria humanidade, parece demonstrar que Marx estava certo.

Terry Eagleton
Terry Eagleton

As relações sociais estabelecidas pelos homens a partir de sua posição no processo de produção continuam a determinar a trama da vida. Não é por outro motivo que o governador da unidade federativa de São Paulo e um senador da República se prostram ante os agentes de algo que os órgãos de mídia definem como “os mercados”¹. O patético espetáculo aponta algo que é sabido há muito tempo, mas insistentemente negado: o caráter de classe das estruturas jurídicas e políticas do Estado.


Nas duas casas do Poder Legislativo federal, a oposição ao governo atua para destruir o pacto estabelecido pela Carta de 1988. Deputados e senadores, muitos autoproclamados pastores, outros reivindicando a designação por patentes militares, e até um alvar enrolado na bandeira nacional, encenam um triste espetáculo cujo sentido não é outro senão submeter o povo e ofender a soberania para garantir a acumulação de uma minoria.


A noção de liberdade, que hoje é brandida pela extrema-direita contra todo avanço que beneficie o trabalho e regule a expansão do capital, serve apenas para justificar a tendência regressiva da ordem econômica e social do capitalismo. Até a noção jurídica de trabalhador livre se encontra ameaçada ante a novilíngua da época, que faz crer que o subempregado, submetido a uma estratégia de sobrevivência, é um empreendedor capitalista em posição linear similar ao fundo de investimentos que controla o aplicativo².


Na nova ordem da economia, o capitalismo social — cuja construção é devida às reformas de Bismarck —, que oferecia às pessoas uma sensação de pertencimento e um lugar no sistema social, redundando em segurança e justiça, é um entrave. Sua estrutura burocrática e sua lógica previdenciária, com evidentes custos redistributivos, ao garantir um lugar aos jovens estudantes, aos trabalhadores, às mulheres, aos idosos, aos doentes e desempregados, implica uma visão de mundo solidária, em tudo oposta ao discurso do interesse próprio propagado pelos apóstolos da teoria econômica difundida pelos donos da riqueza socialmente produzida. Para estes, o ideal é uma situação de salve-se quem puder ao nível da sociedade, com um Estado policial garantindo a segurança da propriedade privada e castigando, com a morte sumária, se preciso, os “de baixo”, algo que a polícia militar do governador de São Paulo parece ensaiar³.


A conjuntura atual, com seus desafios ao trabalho e imposição de ameaças ao futuro da própria humanidade, parece demonstrar que Marx estava certo. Diante de capitalistas que enxergam a produção como potencialmente infinita e a acumulação como um fim em si mesmo, a dignidade e o bem-estar humanos devem ser o limite! À política cabe impor barreiras à loucura e vencer a barbárie. Conforme escreve Terry Eagleton:


“O capitalismo é o aprendiz de feiticeiro: invocou poderes que acabaram lhe escapando por completo ao controle e agora ameaçam nos destruir. A tarefa do socialismo não é esporear tais poderes, mas submetê-los ao controle humano racional” (EAGLETON, 2012, p. 196).


A política continua a ser expressão da luta de classes.


Referências:

EAGLETON, Terry. Marx estava certo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.


Notas:

[1] “Durante evento com empresários na Arko Conference 2025, promovido pela Arko Advice e Galapagos Capital, na última sexta-feira (28/03), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se posicionou contrário o projeto do governo federal que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Segundo ele, a medida, ao priorizar a tributação do capital e aliviar os impostos para a base trabalhadora, seria um ‘contrato com o fracasso’, que desincentivaria investimentos e prejudicaria a população.” Tarcísio ataca proposta de isenção do Imposto de Renda que deve beneficiar 78% dos campineiros. In: Portal Porque. 01/04/2025. < https://www.portalporque.com.br/campinas/tarcisio-ataca-proposta-de-isencao-do-imposto-de-renda-que-deve-beneficiar-78-dos-campineiros/ > Acesso em 06/04/2025.

 

Em reunião com investidores, Ciro Nogueira promete desgastar governo Lula e mexer na isenção do IR. Por Ivan Longo. In: Forum. 03/04/2025. < https://revistaforum.com.br/politica/2025/4/3/em-reunio-com-investidores-ciro-nogueira-promete-desgastar-governo-lula-mexer-na-iseno-do-ir-176802.html > Acesso em 06/04/2025.


[2] “A 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) decidiu, nesta terça-feira (3), pela não existência de vínculo empregatício entre motoristas e a plataforma de transporte 99. A decisão tomada pelo tribunal em São Paulo responde à ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em 2021, que solicitava o reconhecimento do direito à carteira assinada, melhorias nas condições de saúde e segurança do trabalho e a aplicação de multa caso a empresa descumprisse a sentença.” TRT diz que não há vínculo de emprego entre trabalhadores e a 99. Por Rose Amantéa. In: Gazeta do Povo. 04/12/2024. < https://www.gazetadopovo.com.br/economia/trabalho-por-aplicativo-nao-ha-vinculo-empregaticio-trt2/ > Acesso em 06/04/2025.


[3] “Uma em cada três crianças e adolescentes mortos violentamente em SP foram assassinados pela polícia, segundo levantamento do Unicef e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Crianças e adolescentes negros são 3,7 vezes mais vítimas de intervenções letais da PM do que brancos.” Mortes de crianças e adolescentes pela PM mais do que dobram em SP sob governo Tarcísio sem utilização correta de câmeras, diz estudo. Por Cíntia Acayaba, Letícia Dauer. In G1 SP. 03/04/2025. < https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/04/03/mortes-de-criancas-e-adolescentes-pela-pm-dobram-em-sp-sob-governo-tarcisio-sem-utilizacao-correta-de-cameras-diz-estudo.ghtml > Acesso em 06/04/2025.


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